Educação
Aula de Biologia gera nota pública contra professor
Episódio veio à tona quando fundador da Escola Mario Quintana disse que biólogo teria feito colocação sem fundamentação técnica e científica
Divulgação -
Uma aula de Biologia, preparatória para as provas do Programa de Avaliação da Vida Escolar (Pave), transformou-se em polêmica e gerou pressão de entidades vinculadas ao agronegócio em Pelotas. O tema em debate era o efeito estufa. Ao abordar impactos ambientais e falar nos ciclos da água, o professor do Ensino Médio mencionou a redução do consumo de arroz e de carne como alternativas para minimizar o problema. Estava criada a discussão. A publicação de uma nota oficial no Instagram da Escola Mario Quintana, no domingo (24), ao tratar como um grave equívoco a abordagem do professor, provocou indignação de centenas de pessoas: pais, alunos e ex-alunos e integrantes da comunidade científica. A grande maioria criticou duramente a posição da instituição.
Durante a tarde desta segunda-feira (25), a postagem foi deletada da rede social. Ao conversar, por telefone com o Diário Popular - ainda antes de o conteúdo ser removido -, o diretor geral da Mario Quintana, Kauê Valério, argumentou que o texto não era assinado pela direção. "Quem assina a nota é o fundador [Carlos Valério], que sonhou e idealizou a escola, mas não tem mais contato direto com a escola desde 2018". Kauê, entretanto, não adiantou qual seria o posicionamento da Mario Quintana. Apenas pediu prazo para se pronunciar.
O biólogo já acionou o Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro), para buscar orientações e decidir quais medidas tomar. "A nota, embora não divulgue o meu nome, é uma agressão explícita diretamente a mim. Tô chocado, magoado", admite. O educador, com mais de 20 anos de carreira, reforça que o aspecto levantado em sala de aula - há cerca de três semanas - está alicerçado em conhecimentos unicamente científicos e abordados em diferentes estudos e livros, em "qualquer lugar do Planeta". Há anos.
Nota expõe o professor
O texto de 13 linhas se dirige à sociedade pelotense e, em especial, aos responsáveis pela produção rural e orizícola da cidade e da região. Em um dos trechos, a nota afirma: ... Queremos esclarecer que foi uma colocação infeliz, desprovida de fundamentação teórica, técnica e científica. Além disso, salientamos que nossa visão é totalmente oposta, pois reconhecemos e valorizamos nossa história de produção pecuária e orizícola.
O professor, que passou a compor o quadro da Escola Mario Quintana em fevereiro deste ano, garante que o alvo central da aula não eram as duas atividades econômicas e, sim, o efeito estufa. "As plantações de arroz e a pecuária intensificam o aquecimento global em função dos gases atmosféricos que essas duas culturas liberam", destaca. Portanto, a diminuição do consumo de carne e de arroz foi mencionada como uma das possibilidades para redução dos impactos ambientais.
O educador divide a rotina entre viagens a Pelotas e a Novo Hamburgo, onde leciona em cursinho pré-vestibular. O biólogo mora em Caxias do Sul. Conforme o tema ganhava dimensão, fotos do quadro passaram a circular em grupos de WhatsApp, inclusive, com provocações para atos de violência contra o professor.
A palavra das entidades
- Sindicato Rural de Pelotas: A direção aguarda para ter acesso ao conteúdo, já solicitado à escola. Se confirmado que a abordagem integra material que tem sido tratado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Sindicato deve elaborar posição oficial - possivelmente junto a entidades de caráter estadual ou federal - para encaminhar ao Ministério da Educação (MEC) e pedir revisão das informações. "A nossa preocupação é que o material contém equívocos técnicos sobre a produção agropecuária e precisamos que os dados sejam baseados pela ciência", sustenta o presidente do Sindicato, Fernando Rechsteiner. "Temos que nos basear em estudos técnico-científicos e não na opinião e na ideologia de A, B ou C. Precisamos restabelecer a realidade".
- Associação Rural de Pelotas: Em comunicado encaminhado à escola, a ARP também cobra posicionamento. A entidade fala que a redução de consumo, mencionada em sala de aula, consistiria em produção de desinformação. "Fica evidente o desrespeito com a história do estado do Rio Grande do Sul, que tem economia, cultura e formação da sua sociedade enraizada na produção primária, principalmente, no cultivo de arroz e na bovinocultura", afirma o presidente da Associação Rural, Augusto Rassier.
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